quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Folha imaculada





Esta aflição
Procuro intensamente
Origem de tal insegurança
Sensibilidade em mim
Tomou-me como teto
Incerteza de ser
De me deixar levar
-Entregar!
Hesitação em soltar o espírito
- Oculto, tímido…
Deixar a mão pousada de leve
Em folha branca
Memória vazia, sem fonte…
Musa
Imaculado branco que nega absorver
As belas tintas da fantasia
Imaginação caída, varrida de mim
Foge de mim,
Como presa de leoa em savana
Empoeirada
Tintas que rejeitam pintar
O meu imaginário
Arco-íris cinzento, triste
A falta das gotinhas,
Para que na luz do astro rei reflictas
Em inúmeras e invejáveis tintas 
Teimosamente recusam poisar
Nesta minha imaculada folha
Procuro a fonte
O teu inicio,
- Ou fim… onde escondes o pote de moedas douradas.
Contos de fadas,
-Fonte de inspiração, juventude?
-Porque se escondem de mim essas cores?
Jogo às escondidas com elas e nunca as encontro
E em tristeza profunda abandono
Imaculada folha deserta de tintas.  

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Tesouro.







Leves como plumas, pétalas
Tocadas a favor do teu rumo
Sentido que me roça
Toca no meu ser
De leve
Como carícia de palavra bem dita
Palavra que ilumina apazigua
Ser revolto e negativo
Abraço dado, forte, vigoroso
Fortalece todas as forças perdidas
- Não as encontro nas letras!
-Nem nas frases feitas por trovadores.
Conquistas feitas palmo a palmo
De Paixões perdidas, ardentes como
Cânticos de sereia
Marinheiros perdidos no som de um amor
Saudoso
Vestem de negro e carregam seus filhos
Saudades sem partir
Olhos rubros
Fotografam a cada segundo
Imagens que transportam no seu intimo
Anseio ouvir tais cânticos de sereia
Deixar-te assim de preto
Partir nesta nau
De viagem atormentada
E de olhos rubros visualizar-te
Neste porto de abrigo
Partir na busca de palavras preciosas
Como tesouros de piratas
Perdidos e enterrados
Em ilha remota guardados
Por Neptuno
Será um duelo de titãs
Na busca das palavras que te abracem
Te afaguem, limpem teus olhos rubros
Saudosos
Que me transformem em marinheiro
De naus perdidas nos encantos
De sereias
Para que te trazer tal cântico
Como tesouro de piratas descoberto
Cântico que me embala todas as noites
Me limpa, teus olhos rubros
Põem em meus olhos
O brilho que perdi quando parti.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Beatas





Todos os Domingos
Se tornam Santos
Santas,
Aqueles que em peito batem
Como esbofeteados pela palavra
De uma sentença dita certa
Batem em peito oco
Percorrem caminhos
Feitos peregrinos
Inchados que nem pavões
Prenunciam o nome de um Deus
Que julgam ignorante
Batem em peito oco
Feitos peregrinos
De um beco sem saída
Caminham todos em conjunto
Bisbilhotando, cochichando.
- Julgam o Deus ignorante?
Um Deus que vos acompanha
Nessa jornada domingueira
Depois de tantas coisas belas
- Não terá Deus descansado no seu percurso?
-Foi no sétimo dia?
Grandes memórias.
Caminham em conjunto batendo em peito oco
Como rebanho de ovelhas ordenado
Hierarquicamente.
Procuram refúgio
Entre paredes de pedra
Abobadas em meia-lua
Firmadas em grandes pilares rochosos
Luz filtrada por coloridos vitrais
-Terá a mão do Homem o poder…?
Caminham na busca de protecção
De um divino que julgam cego.
Batem em peito oco
Debaixo do seu teto
Será a mão do Homem o poder
Da infinita demonstração
De um divino em cada um alojado?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Peregrino







De pêlo luzidio
Negro como carvão
Brilhante como diamante
De crinas esvoaçantes
Trote elegante
Em prado ponteado de coloridas,
Suaves flores silvestres.
Desejo tanto domar este cavalo
Negro.
Como as palavras que por mim galopam
Sem deixar rastos nem ferros
Escorrem por entre dedos
Como grãos de areia
Soltos como a brisa que te desgrenhem
No teu trote delicado.
De delicado nada tenho
De escrita tenebrosa
Onde sonhar é impossível
Neste mundo a preto e branco
Guiado apenas pelo sexto sentido
Procuro no meu imaginário
As palavras mais belas
Que me escorrem por entre dedos
Domar estas malvadas palavras
Que se negam irromper
Deste meu impenetrável mundo
Onde vivo só
Peregrino das minhas imagens
Que ensaio descrever.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011








Subir a um penhasco
Lutando contra a rocha
Combate desigual
Combate de forças gigantescas
Golpear este meu penhasco
Ao mínimo deslize me empurra
Para seus pés
Humilhando as minhas forças,
Persistência
Gladio ferozmente este
Grotesco gigante
Avoluma-se perante minhas forças
Mas subo
Palmo a palmo
Como quem acaricia um bebé
Em direcção a um azul
Que me tranquiliza
Como chamamento de sereia
Palmo a palmo
Nesta disputa
Destilo feles
Raivas e azedumes
Palmo a palmo…
Subo
Bem lá no alto
Quase a tocar esse tranquilo azul
Refaço forças
Respiração serena
Calma
Abro bem os braços
Abeiro-me de ti
E voo
Abro as minhas asas
Feitas de coloridas e leves plumas
Unidas por cera
Voo debaixo desse tranquilo azul
Celeste
Em busca do amor que perdi
Durante o combate desigual
Voo em direcção á luz
Quente
De um sol matinal

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Refugiado







Dedico a mim mesmo
Estes instantes.
Pausas do meu outro ego
Refugiado em busca de abrigo
Devorando cigarros
Em busca

Desse abrigo que me abrace

Que ponha termo a estes

Pesadelos, ataques de pânico.
Refugiado da luz

Refugiado do odor a terra molhada
Oculto no mais remoto dos cantos

Baloiço-me lenta e pausadamente
Como as imagens criadas pela minha mente

Que se partem
Dividem e se dispersam

Assim como aparecem se somem
Refugiado neste meu canto

Ofegante, trémulo neste vaivém
Sem fim

Escondo-me desse

Terror
Arranho palavras contra o papel

Na esperança que esse abraço
Finalmente surja

E que me deixe finalmente

Refugiar tranquilamente
Debaixo dessa abóbada

Ponteada de branco cintilante
Ter a lua como luz

De cabeceira
E fechar os olhos


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Medo








O superior de todos
O mais maléfico
O grande predador da raça humana
-O Medo!
Devora-nos lentamente
De cada pedacinho devorado
- Cresce!
Como que alimentado
Digerindo-nos os mais belos e
Vividos momentos
Aqueles momentos 
Ocupam a nossa memória
De forma mais persistente
-Enfrentar tal e poderoso inimigo?
Como?
É comum virar costas.
Virar costas a momentos belos
Criados do nada
Virar costas á nossa imaginação
Que nos dita os mais belos poemas
As mais belas e harmoniosas relações
Paixões e amizades
Existem esses momentos
Em todas as esquinas
A todos os momentos
Mas o medo
Esse malogrado medo
Que de mim anda bem nutrido.

Fura vidas





Olhos que vertem
Lágrimas com sabor a sangue
Nem mesmo o sal corrói
Esta minha agonia
Que jorra de mim
De origem incógnita.
- Defeito?
Inacabados os sonhos
Abalado por tremores
De escala infinita
Com um gosto amargo
Ensaio saborear, momentos
Uma vida.
Ocorre-me constantemente
Este sabor amargo
Persistente a fura festas
A uma vida em que não fui convidado
Estes abalos devoram
Lentamente a mais bélica
E persistente personagem
Tornam-se os meus silêncios
Em bombas
As minhas palavras em bofetadas
Os meus empoeirados suspiros
Em aborrecimento
Apetecia-me libertar-me deste gosto
Amargo.
Mas não existe mel suficiente
Que resista a tal sabor
A fura-vidas.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011








De mil e uma maneiras
…Tento
Descrever o Amor
O Amor que se me dedica
E de mil e uma maneiras eu falho
Imperfeito!
Incapaz de descrever o que sinto
Dentro e fora do meu ser
Reduzo todas as minhas forças
Letras, sentimentos
Descrições
A um molhe de frases mal ditas
Imperfeitas.
Quem pode descrever o Amor que sente?
Alguém alguma vez o descreveu?
Será apenas quimera?
-O verdadeiro Amor será!
Algo que nunca ninguém tenha dito?
Recordação nunca feita?
Será Amor palavras inéditas?
-Aquelas que procuro!
Com o maior zelo
Que quero dedicar apaixonadamente
Como namoro,
Na ombreira da porta
Com o velho e respeitoso aroma
 De namoro, á janela
A caminho da fonte
Ou a caminho da escola
Aquele bom sentimento de paixão
Que nos impulsiona
De garotos a adultos
Sem regras nem pudores
Com garra firme  
Inicia de forma desconhecida
Acaba de forma estrondosa
Dolorosa
-Mas de dor ninguém fala!
Porque dedico este poema
Ao Amor que tenho.
Feliz aniversário

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Paleta de letras




Gostava de pintar 
Pintar com letras 
Todos estes momentos
De acalmia
Que me penetram
No turbilhão de pensamentos
Gostava de pintar
Com letras
Reflexos de uma estrela
Reflectida em superfície ondulante  
Ondas que me acalmam
Com som delicado
Trazem-me por entre esses
Reflexos
Os momentos mais aguardados
Que desejo pintar
Com letras
Letras que se dissolvem
Em imaginação engenhosa
No encalço de uma presa
Que me desperte
Destas ilustrações
Que desejo pintar
Com raro vocábulo
Refúgio improvisado
Por entre sebes
Raízes e algas
Rodeado por ruídos
De inimagináveis seres
Visões mais belas
Onde se me acabam as letras
Na minha paleta.