sábado, 11 de julho de 2015

Perdido





Os dias feitos, de noites sem luar
Noites, de sol ardente
Dias de chuva sem nuvens,
flores sem cor nem aroma
De copos  cheios de nada
-Noitadas sem amigos.
“Feitos” a jogar às cartas
Com cartas de amor
sem resposta.
Noitadas na pesca, sem peixes
de céu estrelado, sem estrelas
Vento que bafeja a álcool,
polícias e  maresia.
Calhaus que riscam a negro
o céu branco.
O mar sem vida
que me embala na morte…
A morte que me traga
outro início!



Rui Santos
11/07/15




Aprendiz





Esperei um milénio
sem desesperar nem descansar 
Ancorado à esperança
Como lapa a uma rocha
Lutei pela vida e perdi sempre
Por entre tantas batalhas
Guerras e guerrilhas
Perdi pela guerra e pela paz
Fui mensageiro, guerreiro
Agricultor e engenheiro
Fui médico e analfabeto
Poeta e trovador, fui encanto
e desespero
Fui bruxo, diabrete e anjo
Fui tudo isso para ser o que sou
E vou continuar à espera
mais um milénio, uma eternidade
Vou aprender a ser para ter
E o momento certo há-de chegar

Rui Santos
07/07/15




Poder




Famintos pelo Poder
Julgam o Povo estupido
Carne para canhão
Agarrados a cores partidárias
como abutres a suas presas.
Com fé, como quem respira
pela ultima vez
Elege o Povo, um malvado cabrão
Unem-se elites, lambe botas
marginalizam qualquer imagem
Ideia em prol do seu umbigo
“Esfomeados”, escarnecem
de todas as formas
Copiam ideias estranhas
impondo- as a um Povo que lutou mares dentro
Improvisam leis para delas fugirem
As leis são grandes, mas maior é o criminoso.
Malvados mafiosos que usam o Povo
Narcisistas chifrudos sem honra ou palavra
Vomitam promessas quando precisam
Unem-se em matilhas feitos lobos,
organizados e famintos por sangue


Rui Santos
09/10/15


Vida





Nasci verde
mas a vida fez-me maduro
Nasci maduro
e a vida ensinou-me a cair.
Nasci fraco e a vida fez-me forte
Nasci forte
mas a vida ensinou-me a ser débil
Nasci trovador e por amor cantei
Nasci de amor e por amor morri
Nasci para escrever
e a vida ensinou-me a ser poeta
Nasci austero
mas a vida ensinou-me a ser bondoso
Nasci no pecado
e a vida ensinou-me o caminho de Deus
Nasci no caminho de Deus
e a vida ensinou-me a pregar
Nasci para te conhecer
e a vida escondeu-me de ti
Nasceste para ser minha
mas a vida escondeu-nos os caminhos
Nasci para te dedicar poemas e canções
Mas a vida roubou-me esses dons
Quero nascer de novo para que a vida me dê tudo.

Rui Santos
27/06/15






Leitor do momento




Sem lógica nem nexo
Onde tudo se perde,
Ou tudo se vive de uma só vez.
Todos os momentos são vividos ao limite
Os olhares que se cruzam demoradamente
As almas que se acariciam,
 os gestos que se animam
 nas meninas dos teus olhos castanhos
Doces, límpidos e suaves que me desnudam
de todas as maldades.
Pupilas que se dilatam para o
 “teu” mais profundo… Carinho
Dedicas às palavras soltas, a alma de poeta
como musica a trovador
-Mas quem sou eu?
Nada mais sou que leitor de momento,
aquele que com carvão desenha
os contornos da sua imaginação.


Rui Santos
22/06/15




Ermita




Vou jogar fora todos os haveres
Tudo o que tinha, me foi roubado
tudo o que conquisto me é cobiçado
Não quero mais haveres… Não quero ter.
Deixem-me apenas o meu caderno
as minhas fantasias de amador
Não quero o teu sorriso, a tua palavra
a tua pena de mim.
Não quero sonhar, nem viajar
muito menos tomar ar
Vou ausentar-me de mim mesmo
no meu mais profundo amago
Seguirei este tenebroso caminho
Sem “haveres”, ermita de mim
Neste mundo vagabundo
Onde a cobiça é Rei e a miséria a Rainha

Rui Santos
20/06/15






Despedida




Jazes em leito eterno
Em terras longínquas
Noutro continente… Deixaste
O sonho de uma conquita
um passaporte repleto
de saídas e entradas…
Por poeirentas estradas avermelhadas
Viajavas, com o teu cavalo errante
na busca de aventuras, entre atalhos
e caminhos de outras gentes
De cores e culturas diferentes
Sem receios nem maldades
Percorreste paisagens
que me recuso imaginar
Deixaste o teu amor em tudo
e foste ”chamado”.
Interrompeste o teu percurso
A aventura nesse continente
E partiste em paz
Por entre nós, deambulas
Sem que nos digas quem és

Rui Santos
11/07/15




Rei





Dos teus braços parto
Nos teus braços permaneço…
Neste reino sem Rei
Nem herdeiros,
Reino! As palavras
onde carrasco existe
decapitam  ilusões
Quimeras de nobres damas
de amadas donzelas
trovadores e seus banjos.
De afinadas cordas soltam
Os bobos da corte, do “reino”
Dos teus braços, me solto
Neste abismo sem fundo
Fico… Fico assim neste reino
De ilusão onde a confusão
É Rei



Rui Santos
11/07/15