terça-feira, 19 de abril de 2022

Esperança

 

Abençoado sois!
Permitires-me este nobre caminho
Gravar como em pedra
A Beleza dos momentos que juntos
Passamos, das paisagens por ti deixadas
Gravadas em pedra!
A névoa que do rio se ergue,
Quando o dia desperta
- E o teu aroma se acentua.
Chilrear envergonhado por entre
Marulhar de imponentes partes de ti
Gravadas na pedra!
As cores que lanças
Do céu fogo em azul marinho
Da sílica quente onde afundo os pés
Sentindo-te nessa tua presença
Em todos os pedacinhos
- Sou obra tua!
Gravada em pedra!
Que a memoria não esquece.
Deambulei eternidades
Sem perceber essa realidade
Hora de lançar ferro
Ancorar a Nau
E que gravada na pedra
Fique o porto de abrigo
Que com meus pulsos
Construo e nele nasça
A era do respeito mutuo
Que de verde se vista
A esperança
Rui Santos
11/04/22




Raízes


 - Ó tu Terra!

Que me arrancaste raízes
Transplantado, por entre continentes
-Ó tu Terra!
Que secaste lágrimas de sangue
como Outono sacode folhas
-Ó tu!
Que transformastes sangue em pó
Levantaste a âncora de sonhos
-Ó tu Terra!
Criaste um servo teu
Mesmo débil que raízes lança
Enraizando-me em casa canteiro
Lançando sementes de mim
por onde passo
-Ó Tu Terra, cuja esperança
jamais quebras!
E nela, largo asas,
A sonhos e desejos
Que me foram furtados
- Um dia vou ser o pó!
E nele espero ver raízes,
Flores e rebentos de esperança
que de mim jorram.
Recuso regar estas sementes
Com lágrimas!
- Deposito em cada caule
Flor e estame, o saudável carinho
Onde neste meu remoto jardim pousas.
Onde florescem os bons momentos
Que a esperança e eu juntos semeámos
Que o criador um dia aqui passe
E neste canteiro me cumprimente.
Rui Santos
13/03/22




Dor


Quando nos resta apenas nós mesmos

Despojados de haveres, sem elos
Em que tudo se desfez numa batalha interior
Contra atroz dor
A Dor da perda, da injustiça, a dor
De um Amor que se torna odio
Vingança e gesto de castigo
Como quem pune escravo
Essa dor domina até a alma
Falecida em carências
Resta-nos aguardar o juízo final
Ou então,
Ir bem lá dentro de nós
Escavar fundo na escuridão de alma triste
Até que nada reste, nem mesmo a dor
Pois o cansaço domina a procura incessante
Da tranquilidade.
Despojados de tudo ate mesmo de amarga dor
A luz virá
Vira de forma subtil porque a raiva nos prostrou
Na batalha conta a dor
Se nem mesmo a dor resta, nem bens, filhos ou ganância,
Nem mesmo o dinheiro
Resta-nos a luz, uma divina acendalha
Que nos faz levantar ferro, zarpar nem que seja de encontro
A novas dores , e assim se escava uma vida
Em busca de nós mesmos e em prol dos que nem nos olhos
Nos almejam
A coragem domina com tenacidade e gritando ao Altíssimo
que nos mostre até onde o sofrimento é real
Até onde não somos vítimas dele mesmo.
Rui santos
12/02/22



Relaxo


 Componho acordes, com cores

Risco a tua existência surreal
Nas linhas que a maresia me deixa
Neste turbilhão de sentidos
Descrever a beleza que me trazes
Sem sentido de orientação
Sem rumo e norte
Por onde a maré me empurra
Assim num sobressalto do
Surreal que se torna real
Quando te espero furtivo
Com grandes rugidos
Encontro, a serenidade
O Sal.… O azul que me pacifica
- Relaxo de batalhas destemidas!
Deste meu reino por vezes
Impetuoso quanto tu, em dias rebeldes.
Onde os ventos despojam as suas forças
E te tornas gigante
Relaxo destas batalhas
Por onde me perco em trincheiras
por mim cavadas no passado
que alguém traçou de forma cruel
- Assim como te revoltas e ruges,
grito eu em silencio.
Destas feridas que a alma retém
E componho assim
No teu azul os contornos de uma
Esperança riscada com neblina
Como navio que se faz a porto
De abrigo.
Rui Santos
31/01/22



Particulas


De tal pureza de tão leve existência.

De ínfimas partículas, existis esplendorosamente
Perfeição tal, estudada e maquinada
A Natureza da existência.
Infinitamente grandioso e tão mínimo...
Qual o encanto e magnificente o Vosso Universo
Quão leve sois? Em Vosso acto mágico de criar.
Quão poderoso e magnifico
São Vossas criações?
Cintilantes em mínimas partículas
Magicamente atraídas num complexo fluxo
Que torna qualquer objeto num Universo!
O Amor que dedicais, em cada pedacinho
em cada célula, em cada ser.
«Do pó te ergues e ao pó retornas», e da luz se cria
Matéria, Vida, Existência...
Luz que nasce, alma que cresce uma divindade
obra vossa!
De duas simples células que se encontram
num acto de Amor, uma esperança um desejo
Cada uma delas sabe o seu caminho na plenitude
de Vossa vontade
E logo o seu percurso de vida no Universo
Tão puras, frágeis e tão dóceis, à nascença da sua existência
Quão magnifico e puro os seus sorrisos, amargos os choros.
E da luz se torna matéria!
Da alma que outrora em pó partira, em cintilantes pedacinhos
De dolorosa saudade que devora tempo fora.
O Amor que deixara, nas criações e lições, dedicados momentos
perpetuados na memoria da saudade.
Esse Amor, essa saudade nasce em cada ente, em elos que se fecham
Num ciclo de crescimento
Esse Amor jamais morre, move-se entre nós como a luz
Que a pele roça, suave e quente, irradiada de cintilante estrela.
Essa pequenina célula do Vosso Universo, que rege a nossa existência
Em ínfimas partículas se torna a nossa viagem
No centro do Vosso Amor.
Bem-haja e que sejais louvado.
Rui Santos
22/01/22

Tentação

 

Tu que és a voz
De uma paixão guardada
Tu que és,
O ardor de vulcão interior.
De um Amor secreto
Porque olhos te invejam.
Tu que és,
A dona de meus segredos
Dores e desafios.
E de ti fujo, para que a tentação
Não me traia!
Covarde de mim mesmo,
Esconder o meu desejo
Como quem esconde tesouro.
É eu feito navegador,
Casca de noz, em mares vivas.
É tu és!
A mais bela pedra de toda uma vida.
Seguras entre dedos o comando
Do meu coração cavalgante.
Rui Santos
30/09/21

Impulso


O tempo que se perdeu

E, em nada que se tem
Onde tudo o que se usa
É o alcance da vista
O Tempo perdeu-se!
Em detalhes que foram esquecidos
Atitudes outrora usadas
Procuro no tempo, o tempo que perdi
Na busca de tudo o que possuis!
És a raiz da planta mais bela ,
Que envergonha a leveza deste Universo
O impulso de quem cuida!
No toque sem vergonha
A repulsa que não existe
O tempo perdeu-se!
E em algo tão simples e maternal
De quem sente
Temperaturas com lábios
O tempo não se perdeu em ti!
Formou-te uma flor de uma união
E que o teu puro gesto
Se imortalize como em tudo.
Que vos une
A amizade.
Rui Santos
Algures/2021

Intranquilidades


Como fogo desgovernado Em encostas lambidas Pelo sopro dantesco Como batalhas em trincheiras Lavradas na pedra As palavras como balas perdidas Trovejam sentenças Em prol de um Deus menor Os vícios que me corroem O pedido de clemencia Que se grita no vazio E o eco percorre-me nas veias Vícios que me correm Na seiva, feito citrinos em calcários A lava que jorra de iris Gretadas pelo tempo, tiquetaqueante No infinito E o eco traz-me a lembrança De luar feito cardume! -Ó Astro rei da noite Despertas o Adamastor em marés cheias Com o teu brilho e aguardo a presa Feita refeição Na tranquilidade do teu porto seguro Nessa beleza, liberto as minhas, Más energias de seculos

Rui Santos
Algures/2021

Naufrago


Quem fui eu em todas as outras vidas?

Que mal atroz cometi?
Pesado karma que me persegue
Como grilheta em todos os membros
E segura firme neste corpo
-Qual alma suporta tal atrocidade?
-Quem fui eu?
Guerreiro de guerras alheias!?
Fiz vítimas, ou sou uma dela?
Perdi o rasto da estrela Polar.
Como quem navega em águas
Onde as velas caiem sem brisa
Onde o Sol enfraquece o espírito
E se solta do corpo a alma
Nos cânticos de belas sereias
Como quem perde a esperança
E luta contra a própria mente.
Que Deus nos proteja e aos fracos
Atados ao forte mastro.
Antes o Adamastor
Que perder a sanidade
Numa luta inglória.
Sinto a alma desabar contra rochedos
Em vagas constantes
Esse som que nos traz a terra.
E mesmo que desfeito
Caia em braços de uma indígena
Que me sare as feridas,
Desta e de todas as outras vidas
Que finalmente encontre
O caminho certo,
Liberto de tal karma
Quem sou eu?
Rui Santos
14/04/21

Aqueles



 Aqueles que choram

como quem sua
de tão trabalhada dor profunda,
Para lá no fim da linha
como silvo de bala
mordida por cão raivoso
perfurando a quietude
.
Algures, escondido
em traumas,
desertos de sentimentos,
abandono galopante...
gritos que silenciam trovões.
Chegam-nos como comboio desenfreado
Aqueles que choram como quem sua
- E a dor não passa!
Quantos foram os mensageiros
tombados
em campos desconhecidos
roubados dos seus testemunhos?
-Poderiam ser de paz, tréguas!
E tombam assim em campos
desfeitos por balas raivosas!
Aqueles que choram como quem sua
e no fim da linha,
a mensagem era de paz!
Rui Santos
22/09/20

Dor


Abrem em ti sulcos
Brechas na tua leveza
A natureza que possuis
Lavrada por ancoras ferrugentas
Transpiras o fel que a outros pertence
Fel, que nem sal em ferida
Abandono que te corrói
Maceras ideias
Rebenta-te o estômago em fogo
A galope desenfreado
O músculo que possui a chave da tua Alma
Essa que transpira gotas
De fonte seca
Essas esferas cor de mel tentam em vão
Soltar achas e faúlhas
Libertam apenas gritos secos
Pedidos de socorro
Que te seguram o espirito
Dessa ansia que te devora
Na tua estridente voz, a dor
De uma garganta que se enrola
Em nó cego, apertado ate ao pulmão
E aos ais saltitas nervosamente
Passados que te cortaram igualmente
A suave superfície do teu ser
Liberta essa dor!
Grita, ate que bem longe
Todos os vidros falem por ti
- Isso são dores que o Amor deixa!
Marcadas a ferro numa Alma doce
- Estas aqui hoje!
- Amanha transportam essas mesmas dores,
Aqueles que a saudade do teu Amor, deixou!
Rui Santos
29/08/2020  Dedicado a Carmita, Minha Esposa

 

O pó que assentou
Neste meu abandono
Papel amarrotado a um canto jogado
Manchas do café que não me desperta
Nos olhos o ardor do fumo
Tabaco que não me acalma
E rolam as lagrimas sobre um papel
Sem ideias
E nesta quietude as palavras azedam
Na ideia que não germina e abolorece
Encarquilham-se as raízes destas ideias
Como os cabelos que desguedelho entre dedos
- Não existem fisioterapeutas da escrita?
-Endireitas das ideias?
Qualquer um
Que me faça soltar gritos de dor e revolta
E me deixe articular uma frase que seja
Sem que a rabisque e jogue no lixo?
Esta quietude tornou-se áspera
Dura de engolir
E o nó na garganta aperta!
Rui Santos
27/08/20

Corruptos



 Como seres rastejantes

Repugnantes criaturas
disfarçados de cordeiros
Rastejam noite fora
Almas penadas sem corpo
Ou corpo sem alma.
Suas vítimas rastejam
escondendo-se na bruma de noite
Por entre vapores e alvoroço de ruas cheias
Cambaleando por entre vidros e garrafas
Serpenteando em imaginário covil
Tentando desmaiar das agruras da vida.
Grupos de pomposos galãs
Que ostentam brilhantes fatos
Lobos em pele de cordeiro,
Luzidios que nem lontras
Lustrosos que nem leões marinhos
Juntam-se em matilhas
Caçando pobres criaturas deambulantes
Em Prol de um grupinho, dito eleito
Como pode um povo eleger?
Vítimas de um veneno radical
Sugando sangue qual sanguessuga
Para cuspir ardilosas mentiras
Puro marketing numa cruz,
em papel vazio de honra
Cumprimentam-se sorridentes
Vítima destes grupelhos
com venenosas palmadinhas
Salivando sobre o papel sem honra
Embriagados em marketing
este povo caminha
Ignorando que a felicidade existe
Nasce nu e despido de tudo parte.
Rui Santos
17/11/19

Finados

 
Quando os vivos se esquecem

Que os seus, vivos estão;
Quando os vivos se esquecem
De que os mortos, com os seus entes
se encontram lá no éden.
Porque a vida é o inferno!
Quando os vivos se esquecem
De que a árdua dor de perder um ente
Pode ser apenas o fim do inferno,
O reencontro com a paz,
o descanso!
- Ó Deus misericordioso!
Quando deixarão
estes vivos de pensar
Que Vós sois apenas um pouco de cada um de nós?
Todos nós, Senhor Meu Deus,
vos julgamos a Entidade superior,
O Amor Universal!
- Qual será o pai mais Divino que o filho?
Apenas vós, Meu Deus!
Só Vosso filho, o herdeiro do Amor da Mãe e seguidor
da Vontade do Pai, é Divino e Superior!
- Qual será o Pai que perdoa a morte do seu filho?
- E quando é que nós, humanos, no vamos lembrar que
Somos apenas uma pequena partícula de pó
Neste infinito universo?
Perdoai-me Ó Deus!
Porquê em vez de pomposos ramos de caras flores,
não carregam na alma,
o calor dos entes de nós despedidos?
E nós? Quando iremos nos lembrar
que somos filhos de
duas mortais divindades,
que de nos ensinaram
Que aqui neste inferno
Apenas se sobrevive?
Rui Santos
01/11/2019

Desejo



 Do alto desta colina

Por onde me perco
No Imaginário
Prado verde até perder de vista
Pintalgado por papoilas e malquereres
Penteados pela fresca brisa matinal
O toque das cores quentes
Dos raios de sol
Que me roçam a pele
Fazendo lembrar-me
As cores dos teus cabelos soltos, brilhantes
Revoltos pela brisa
Que me traz várias fragrâncias
Aromas delicados como tudo
O que me rodeia
Estender aqui um manto
Vermelho riscado de branco
Segurar-te nos braços
Até que te libertes
E nos teus lábios
Delicados beijos pousar
Como mariposas
E...
Esperar que o Sol se ponha
Contando contigo todos os risquinhos
Deixados por asteroides
Atrás deles dezenas de desejos
E que todo este pedacito de Éden
Se repita até ao meu último
Suspiro
Rui Santos
03/10/19

Palavras



 As palavras podem ser tudo

e ser nada
Orações, declarações de guerra
Poemas e Prosas
A amores inventados.
Vividos, ou passados
As palavras, mentirosas, cruéis
Podem ser tudo e ser nada
Pensadas ou espontâneas
Livres ou preconceituosas
Descrevem cenários
pomposos, grotescos ou
Violentos
Eu escondi as minhas
em redomas de vidro
Esculpi algumas em pedra
ou madeira
Desenhei com elas, noites,
de leito nupcial
De camas rasgadas!
Leitos ardentes ou solitários
As palavras podem ser tudo
Ou ser nada
Podem descrever o Amor
que se esfumou
Ou apenas, o que nunca se
Encontrou
Rui Santos
24/09/19